Da jornal Valor Econômico, em reportagem de Letícia Fucuchima
A estatal paranaense Copel espera forte competição no processo de venda de sua subsidiária de telecomunicações, a Copel Telecom, que atua na oferta de fibra óptica no Paraná. Na visão do presidente da estatal, Daniel Slaviero, a qualidade do ativo, a segurança jurídica do processo e o momento de liquidez no mercado devem garantir um bom ágio sobre o preço mínimo definido em R$ 1,4 bilhão. “E com a perspectiva de chegada do 5G no país, você cria uma oportunidade única para operadores privados maximizarem e gerarem valor”, disse, ao Valor.
Segundo o presidente da Copel Telecom, Wendell Oliveira, o processo tem atraído o interesse de fundos de private equity, fundos de infraestrutura e operadores estratégicos. Já são mais de dez grupos habilitados a acessar o “data room” da venda, e a expectativa é de que chegue a mais de 20 “com tranquilidade”, afirma o executivo. “A qualidade dos ativos e a capilaridade da empresa é reconhecida pelo mercado. E ela vai ser vendida com seus contratos, mas não com os funcionários [serão realocados na Copel], isso faz com que o potencial comprador tenha uma segurança de que não há passivos”.
A elétrica paranaense divulgou ontem ao mercado as últimas informações sobre a venda, que está sendo assessorada pelo Rothschild & Co e pelo Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados. O leilão está marcado para o dia 9 de novembro, na B3. Os proponentes devem apresentar lances por 100% das ações da Copel Telecom, com preço mínimo de R$ 1,4 bilhão definido a partir de estudos de uma consultoria independente que já consideram os efeitos da pandemia no “valuation” do ativo. A disputa vai ser à viva voz caso a diferença entre a melhor proposta e as demais for inferior a 15%.
Roberlei Queiroz, advogado e professor de direito administrativo, especializado em contratações públicas, avalia que não há risco de questionamentos para barrar o processo. “Pelo que se vê na mídia e nas informações técnicas e jurídicas, a desestatização da Copel Telecom seguiu todos os trâmites legais. Também avançou, ao abrir espaço para o acompanhamento dos órgãos de controle. Isso comprova que é uma desestatização transparente e regular”.
No mercado desde o fim da década de 90, a Copel Telecom é líder em fibra óptica no Paraná, com 22% de mercado, quase o dobro do segundo lugar (a Vivo, com 12%). A infraestrutura da empresa cobre todas as cidades paranaenses e envolve mais de 36 mil km de redes proprietárias e sem compartilhamento, de modo que a cobertura pode ser ampliada a partir de “swap” com parceiros. São 200 mil clientes e 1 milhão de “homes passed” (domicílios onde o serviço está disponível para contratação).
A estatal paranaense está vendendo o ativo para se concentrar no seu negócio principal, o de energia elétrica. “Entendemos que, para que a Copel permaneça como uma sociedade de economia mista, que é a diretriz, ela precisa se tornar cada vez mais eficiente”, destaca Slaviero.
Embora tenha boas métricas financeiras e participação de mercado relevante, a leitura é de que seria desafiador para a companhia continuar crescendo na área, diante do cenário competitivo. “Um operador privado que tem escala, expertise, agilidade e capacidade de oferecer serviços multiplataforma, pode pegar esse ativo e gerar muito valor”, avalia o presidente da Copel.
Os recursos da venda devem ser direcionados a investimentos em frentes que a Copel quer ampliar sua atuação, como geração de energia eólica e solar e no setor de transmissão. “Se não encontrarmos projetos com retornos interessantes, uma alternativa que não pode ser descartada é aumentar a política de dividendos, temos pago o mínimo legal. Mas a prioridade é investimentos”.
A Copel segue um movimento já realizado por outras elétricas que, no passado, investiram em fibras ópticas para a comunicação entre instalações, como usinas e subestações, e depois passaram a explorar os serviços. Na última década, por diferentes razões, algumas empresas foram se desfazendo desses ativos: a antiga Eletropaulo Telecom vendeu a rede de fibra para a TIM e, mais recentemente, a Cemig Telecom foi dividida em dois blocos de ativos de fibra, arrematados pela American Tower e Algar Telecom.
A Copel também continua com a intenção de se desfazer da distribuidora de gás Compagas. A expectativa é renovar a concessão da empresa e realizar o desinvestimento até o fim de 2021.
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